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quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Maria no contexto bíblico do Novo Testamento


Síntese Mariológica de Cada Evangelista

1.1 Marcos (60): Maria = mãe clânica ou carnal do Messias.

Em Marcos Maria tem apenas um nome, não um perfil definido. É ainda uma figura ‘sem relevo’. Não tem uma personalidade, mas é mera função. ‘Quem é minha mãe?’ (Mc 3,33). ‘Não é ele o filho de Maria? (Mc 6,3). O mistério de Jesus é sentido como escândalo e não como loucura. Marcos nada diz sobre Maria ou de sua reação. A expressão “Filho de Maria” é uma referência única e estranha no NT. No resto dos evangelhos se dirá “Filho de José” (Lc 3,23; 4,22; Jo 1,45; 6,42). Mt usa a fórmula indireta: “Não é Maria sua Mãe? (Mt 13,55)”.

            Concluindo: Marcos é ainda ignorante da grandeza de Maria e apresenta uma Maria ignorante da grandeza de Jesus. A lição que fica para nós é que Maria começou sua peregrinação da fé praticamente do nada, do ponto zero. E foi crescendo a partir da obscuridade. Ela fica reduzida à sua função biológica e social.

1.1.1 Paulo (Carta aos Gálatas – escrita cerca de 56-57)

            Seu único texto mariológico é Gl 4,4: “Feito de mulher... a fim de recebermos a adoção filial”. Talvez Maria ainda estivesse viva quando Paulo escreveu a carta, contudo, ao referir-se ‘nascido de mulher’ indica simplesmente a condição humana, especialmente seu aspecto fraco e mortal. Paulo diz exatamente ‘feito’, talvez para entender a pré-existência de Cristo. Também expressa a Kenose, a humilhação ou esvaziamento de Cristo que se fez servo (Fl 2,5-8), sem maldição (Gl 3,13), sem pecado (2Cor 5,21).

            Conclusão: O interesse de Paulo é estritamente Cristológico. Jesus é o foco, o centro e sendo Maria apenas a figura de contraste em relação à filiação divina. Além disso, Maria, nesse texto, permanece anônima. Maria só entra aí em função de Cristo, como instrumento quase impessoal de sua vinda. Maria faz parte da História da Salvação e está estritamente relacionada como Filho e com seu envio. Ela serve de caminho para a vinda de Deus até nós em seu Filho. Ela possibilita a adoção filial. Assim, essa Mulher é também o caminho pelo qual vamos a Deus.

1.2 Mateus (70): Maria = é a Mãe-Vigem do Messias Salvador

            No relato da genealogia de Jesus (Mt 1,1-17), Mateus cita cinco mulheres: 1)Tamar (Gn 38,15), a falsa prostituta; 2)Betsabéia (II Sam 11,11), com quem Davi adulterará; 3)Raab (Jos 2,1ss), a prostituta estrangeira (Js 2); 4)Rute (Rt 4), a estrangeira que casou com o velho Booz; 5)Maria, a suprema irregularidade: a virgem que se torna mãe. De Abraão a Davi – Davi ao Exílio da Babilônia – Exílio à Cristo (42 gerações). Abraão é o Pai dos crentes; Davi o fundador da dinastia real e Jesus é o filho da história humana e da promessa divina.

Não se trata de grandes matriarcas, mas de mulheres vivendo em situações irregular ou excepcional. Mateus quer sublinhar que a História da Salvação é conduzida pela soberania de Deus e por mais ninguém. Maria aparece no relato como figura que rompe a linha genealógica. Ela é o ponto de inflexão a partir do qual tem início uma outra genealogia, a da nova humanidade.

            No relato do anúncio a José (Mt 1,18-25), Mateus concentra-se na questão da concepção virginal do Messias no seio de Maria. “Eis que a Virgem conceberá e dará à luz um filho e o chamarão com o nome de Emanuel” v.23. O foco central não é mariológico mais cristológico. A concepção virginal diz respeito, a Jesus, e só depois a Maria. Sua maternidade não é obra de José, mas do Espírito Santo.

            Na visita dos Magos (Mt 2,1-12), Maria aparece como a Nova Jerusalém e o novo Templo. “Onde está o rei dos judeus, recém –nascido?” v.2. “Viram o menino com Maria, sua mãe”. v.11. Onde encontrar Jesus? Lá onde está Maria. É Ela agora a sede ou o trono do novo Rei. Ela é o novo templo, onde habita Deus e onde é adorado. Os Magos encontram o menino e sua mãe. Maria, enfim, se mostra companheira inseparável do Filho. Maria participa da vida de Jesus e na obra salvifica do Messias numa extraordinária proximidade.

            Conclusão: Maria emerge como uma personagem importante na História da Salvação. Ela é mais que mãe clânica como em Marcos: tem uma relação privilegiada e mesmo exclusiva com Cristo. É toda cristocentranda, é inteiramente de e para Cristo.

1.3 Lucas (80): Maria = mulher livre, a crente por excelência e a mãe do Messias.

            Lucas enfatiza a figura de Maria como a mulher de fé por excelência. Antes, a Virgem aparece como uma mulher livre, que aceita consciente e responsavelmente a Palavra de Deus; depois, Ela surge como a Mãe do Senhor, precisamente a partir de sua aceitação na fé. Lucas é o evangelista que mais relata a presença de Maria dos evangelistas. Os mais significativos são três:

1)Anunciação (Lc 1,26-38): Este texto ressalta a Virgem como centro e protagonista da cena evangélica; traça da forma mais nítida o retrato humano e espiritual de Maria; é o mais usado na liturgia; é o mais citado pelos Padres da Igreja; e retrata a cena mariana mais pintada pelos artistas. São João Crisólogo apresenta Maria, neste contexto, como a ‘obra dos séculos’, isto é, a Salvação do Mundo. Sto. Tomás de Aquino diz: ‘Pela Anunciação se esperava o consenso da Virgem no lugar de toda a natureza humana’. Maria é a cheia de graça e aparece como figura da liberdade humana, de uma liberdade que é poder de entrega, mas também de recusa. Ela vive a aventura dramática da liberdade, com seus cumes de luz, mas também com seus vórtices tenebrosos. A Virgem emerge como imagem de uma liberdade concreta, que diz sim ‘A Palavra de Deus’. Por isso Ela é a figura da fé, como ato de uma liberdade que se abre toda à oferta da graça e do amor.

2)Visitação (Lc 1,39-45): ‘Levantando-se, Maria partiu com pressa’ v.39... O levantar-se mostra a iniciativa autônoma de Maria de partir para as montanhas. O amor tem pressa. A Virgem é levada pelo amor, seja ao filho que traz no ventre, seja à prima em necessidade, seja simplesmente à vontade de Deus. Essa pressa é sinal de solicitude e disponibilidade. Na Visitação a Virgem mostra o que significa ser uma serva em ação. Torna-se a primeira evangelizadora da Boa-Nova. A saudação de sua prima, ‘feliz aquela que acreditou’ v.45, revela a identidade espiritual de Maria, a crente por excelência. ‘Feliz de quem crê sem ter visto’, exclamará Jesus em Jo 20,29.

3)Magnificat (Lc 1,46-55): É o canto da libertação messiânica. É o texto bíblico mais longo colocado na boca de Maria. Aqui não se fala de Maria, mas é Maria mesma que fala: fala de Deus e das maravilhas que realizou nela, no mundo e em seu povo. Documento de Puebla (n.297; 1144) declara este cântico ‘espelho da alma de Maria’; o ‘cume da espiritualidade dos pobres de Javé’, o ‘prelúdio do Sermão da Montanha’. A estrutura do Magnificat, segundo o teólogo Dupont, expressa: ação divina em Maria, mensagem pessoal; ação divina na Humanidade, mensagem social; ação divina no Povo de Israel, mensagem étnica.

Conclusão: Temos em Lucas Maria com uma personalidade: mulher responsável, autônoma, determinada. Tem um rosto, um perfil, um caráter, uma identidade própria, de relação polarizada, tensa, mas profundamente acolhedora e fiel. É pessoa que caminha, cresce e se determina.

1.4 João (90): Maria = mediadora da fé (Cana – Jo 2,1-12) , mãe da Comunidade (sob a Cruz – Jo 19,25-27) e figura da Igreja e da Nova Criação (Ap 12).

            Maria em João é mais que mera personagem (missão) e até mais que uma personalidade (pessoa): é personalidade corporativa. Seu significado supera sua pessoa individual. Ela representa a comunidade eclesial, a humanidade salva, o cosmo redimido. A Maria de João transcende infinitamente Maria de Nazaré. João coloca Maria nos dois momentos decisivo do ministério de Jesus: Caná representa o momento da inauguração da vida pública e o Calvário é o momento culminante da hora de Jesus a exaltação ba cruz. João usa o simbólico para escrever, assim, devemos ler Maria com base de um sentido mais profundo, que é o sentido espiritual, místico, sobrenatural. Daí o principio hermenêutico de Orígenes: “Ninguém pode compreender o sentido do Evangelho de João a não ser aquele que repousar sobre o peito de Jesus ou receber Maria como mãe das mãos de Jesus” (PG 14,29-32).

            Jesus na Cruz, ao usar a expressão mulher, quer indicar o sentido simbólico-místico da pessoa de Maria. Torna-se a figura-tipo da Igreja-mãe, a comunidade apostólica-missionária, que gera filhos para Deus através da Palavra de Deus e dos Sacramentos. Ela é a nova Eva, como Cristo o novo Adão (São Justino e Irineu). É a mãe carnal de Jesus e a mãe espiritual dos discípulos, é a mãe da Igreja, da comunidade de fé. Ela torna-se o ícone-simbólico-teológico que supera a realidade da Maria histórica, a Virgem de Nazaré. Assim, Maria torna-se parte da Identidade Cristã. E o título de Maria, Mãe da Igreja, aparece no séc. XI com Berengário de Tours, mas foi somente declarado título mariano solenemente por Paulo VI em 21 de novembro de 1964.

            João no Apocalipse apresenta Maria na dupla condição da Igreja: condição humilhada e vencida no tempo, e gloriosa e finalmente vencedora. O simbolismo esta na Igreja que sofre as dores do parto mediante as perseguições para gerar Cristo nos corações. Maria na glória continua hoje sofrendo misticamente as dores de seus filhos e filhas, caminhando na história (Ap12,17). Essa dor/parto tem seu destino de vida/vitória. Daí a LG apresenta Maria como ‘sinal de esperança segura e conforto para o Povo de Deus’. (LG 68)

            Concluindo percebemos, neste contexto, uma evolução da figura de Maria no NT. A fase oculta de Marcos como a mãe carnal ou clânica do Filho de Deus; a fase alusiva de Paulo; a fase positiva de Mateus e Lucas e a fase de aprofundamento de João. Neste amadurecimento mariológico, a Igreja não inventou coisas sobre a Virgem, apenas descobriu dimensões de seu mistério e apresenta Maria como pessoa próxima de Cristo, membro mais eminente da Igreja, a qual recebe alguns privilégios como os dogmas de Mãe de Deus, Sempre Virgem, Imaculada, e assunta ao céu. Essas particularíssimas de Maria estão a serviço de Cristo e tão somente pelos seus méritos, não visam tanto honrá-la sua pessoa quanto habilitá-la para servir o Mistério da Salvação. Ela esta toda voltada para Cristo e seu Reino. Ela é testemunha do Messias e de sua obra. É um ser todo relativo: um ser-de, um ser-com e um ser-para.

Pe. Carlos Luiz Bacheladenski,cm
Diretor Seminário Propedêutico

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